O novo sempre vem (ou O cheiro da nova estação).
Sempre tive medo de mudanças. Sonhava com o tempo em que as coisas da vida viriam com a garantia de que nunca iriam se acabar. Certa vez, disse a uma amiga que não queria ficar velha, porque com 60 anos não conseguiria ir a um show de rock. Ela então me respondeu que ficasse tranquila, porque com 60 anos, EU não iria mais querer ir a um show de rock. Acho que esta foi a primeira vez que parei pra pensar no lado positivo da mudança, apesar de não me sentir efetivamente convencida. Isto é: convencida de que eu aceitaria de bom grado alguma mudança inexorável devido ao fato de que eu também já me encontrasse transformada quando aquela chegasse. Hoje, já tenho meio caminho andado. Quando algo começa, tenho a tentação de desejar (e de recear) que seja eterno. Mas então penso como a mudança compulsória - aquela não desejada, futuro que chega como "uma astronave que muda nossa vida e depois convida a rir ou chorar" - acaba por se tornar uma bênção. Porque por mais que doa, por mais que uma perda signifique mais uma marca, todas elas se mostram essenciais para meu crescimento e, muito mais ainda, essenciais para minha felicidade. Quando o "cheiro da nova estação" irrompeu pelos arredores, trouxe com ele a certeza de que eu sou muito melhor, muito mais forte e muito mais feliz do que antes do pedaço arrancado. Porque, a bem da verdade, o pedaço arrancado já não fazia mais parte de mim. Eu é que, por hábito ou acomodação, fingia crer. Mas era apenas membro fantasma e a dor, que não era pouca, se acabou . E hoje eu quase me arrisco a declarar que mudar é bom. Porque realmente vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estação. E eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão... Ps: "every new beginning comes from some other beginning’s end..."
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