26.3.07

Redenção

Será isto um erro? Eu fico a me perguntar... Ou, melhorando a pergunta: quão grave é este erro?
Sempre que meu presente me desagradava, buscava refúgio no futuro. Imaginava situações mil, maravilhosas, onde eu era sempre feliz num futuro idílico e sem nenhuma obrigatoriedade de ser exequível.
Hoje, às vésperas de completar 30 anos, e com bem mais experiência, tomei o sentido oposto. Quando meu presente me desagrada, sonho com um passado, distante, onde eu suponho que era mais feliz. Um passado onde eu acreditava que podia tudo, onde o "certo" sempre vencia o "errado" e o Bem triunfava no final. Onde ser correta e lutar por seus objetivos era a salvaguarda de que seus sonhos se realizariam. Onde eu podia tudo, com trabalho, retidão e fé. Mas, podia tudo.
Hoje, me sinto podendo quase nada. Esforço-me, diariamente, para continuar tendo fé de que "dias melhores virão"! e assim, obrigo corpo e alma cansados, a continuarem caminhando. Vou me empurrando sem saber muito bem para onde, na fé cega de que o caminho está correto e em breve encontrarei o oásis para matar a minha sede. Onde descobrirei a saída ao fim, e vou me livrar da selva escura e perigosa na qual fiquei perdida, andando muitas vezes em círculos, nos últimos anos.
Então, sem nem precisar fechar os olhos, simplesmente imagino que estou de volta àquele tempo onde eu era a "Bond girl" e tinha super-poderes. Onde, com um sopro, podia derrubar a legião de malvados que me cercava e com algumas piscadinhas de olhos, o herói mais atormentado que eu já conhecera. Onde eu virava tudo do avesso, só para poder reconstruir à minha imagem e semelhança. Onde eu era mais eu. Onde eu descobri quem eu era. Onde eu fui mais feliz.
E hoje, num dos milhares de diálogos hipotéticos que travo em minha cabeça, sonhando em poder voltar, um dia que seja, para aquela situação, eu ouvi você me perguntar:
"- Afinal, Daphne, o que você realmente quer?"
"- Redenção. Eu quero me redimir de meus erros. E fazer tudo certo desta vez."
***
E aí, a gente talvez descubra que não há mesmo caminho e que a decisão anterior foi, de fato, a mais correta. Mas, então, eu poderei seguir em paz com a minha consciência, pensando que eu fui melhor do que aquilo que eu verdadeiramente sou.

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